Exemplo de vida
Matéria feita por Eduardo Gois
Author: Eduardo Gois
Hoje foi um dia especial, pois tive o
prazer de conhecer Flávio e Jane Peralta. Eles são os idealizadores do
site www.amputadosvencedores.com.br. Os dois correm o Brasil inteiro
dando palestras sobre segurança do trabalho.
Em fevereiro deste ano fiz uma matéria
para o JS sobre a história de vida dele, mas por ter realizado a
entrevista por e-mail, só agora tive o prazer de conhecer pessoalmente.
Foi durante a SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes do
Trabalho – da Editora Santuário. Fico feliz da matéria ter rendido
também uma participação na SIPAT.
Veja que bacana ficou a matéria:

Não
posso deixar de lembrar que fui presenteado com os livros: Amputados
Vencedores e Os Peralta. Estou ansioso para começar a ler
Volta por cima
SUPERAÇÃO/ EX-ELETRICISTA FLÁVIO PERALTA DESCOBRE QUE HÁ VIDA PÓS-ACIDENTE DE TRABALHO
O dia 21 de agosto de 1997 representou
uma grande mudança na vida do ex-eletricista Flávio Peralta. Atos
inseguros e más condições de trabalho resultaram em um choque elétrico
de 13.800 volts.
A descarga elétrica fez com que Peralta perdesse os dois braços e começasse um momento de grande ruptura em sua vida.
Foram 45 longas noites na cama do
hospital que pareceram anos, segundo Flávio: “Encontrei forças em Deus
para continuar vivo. Daquele momento em diante eu não faria mais nada
sozinho e precisaria de ajuda para tudo”.
Ele tinha somente um pensamento naquele
hospital: “Vou colocar uma prótese. Quando tive alta e fui morar com
minha irmã Fátima e seus filhos Cirilo e Breno, tivemos que nos
condicionarmos a um novo estilo de vida”.
Usar uma prótese parecia um novo começo
para o eletricista. São Paulo seria o destino na busca da esperança e
também uma tentativa de normalizar a vida. A cada viagem de ônibus que
fazia de volta a Londrina (PR), Flávio voltava cheio de fé.
“Chegou então o grande dia: pegaria
minha prótese do braço direito. Justamente aquele que não tinha
cotovelo. Quando entrei na sala e vi aquele objeto sobre a mesa, eu
quase desmaiei. Fiquei branco e pensativo. Como poderia dar certo?”
Passados 40 dias Peralta aprendeu a
manejar todos os movimentos da mão mioelétrica, com o uso de um
equipamento eletrônico. “Eu abria e fechava a mão com movimentos dos
músculos, então acreditava que faria muitas coisas com aquela prótese,
afinal ela mexia os dedos e o cotovelo era mecânico. Antes disso fizemos
a compra sem ter visto nenhuma foto dela. Quando coloquei a prótese do
braço direito, foi impossível usá-la. Ela me machucou muito e nunca a
usei.”
Após várias tentativas para colocar a
prótese, a decepção de todos ficou estampada nos rostos. O resultado não
atendeu as expectativas.
“Quando cheguei em casa, fiquei arrasado
e precisei esperar mais um ano para colocar a outra prótese do braço.
Investi no braço esquerdo e realizei mais quatro cirurgias nele para
poder prepará-lo para a nova prótese. Só não sabia onde faria, pois a
decepção que tive na primeira me deixou muito indeciso.”
Apesar disso, Peralta nunca revoltou-se com Deus. Ao contrário, ele queria viver cada dia mais cheio de fé e esperança.
Para Flávio as dificuldades não foram
poucas durante esse período, pois ele não conseguia comer sozinho, tomar
banho, vestir-se, escovar os dentes, beber água ou pegar qualquer
objeto. Por isso, precisava da ajuda de alguém até mesmo para realizar
as necessidades fisiológicas básicas. “Isso foi o mais difícil, pois
passei a precisar das mãos de outra pessoa para tudo, e a família de
minha irmã Fátima foi fundamental. Ela, meu ex-cunhado, seus filhos e
empregada me atendiam em tudo que eu precisava. O mais complicado era
quando precisava ir ao banheiro. Foi a pior parte.”
Somente em 1999, após dois anos de
acidente, ele conheceu a prótese que esperava. “Eu estava tão animado
que tinha certeza de que tudo daria certo. Dessa vez, fui para a cidade
de Sorocaba (SP)”, explica Flávio, tomado por uma nova alegria no
coração.
Em 15 dias o eletricista já conseguia realizar diversos movimentos e já não era mais tão dependente da família.
“Levei algum tempo para perceber que as
coisas mudariam em minha vida e poder fazer pequenas coisas que eu nem
mais me lembrava. Eu precisava compreender que poderia ser mais
independente usando a prótese e fazer o outro também entender que eu
poderia me virar sozinho.”
Com o tempo escovar os dentes, usar o
controle da televisão, digitar no computador e pegar numa garrafa d’água
devolvia a Peralta a vontade de viver novamente.
“Como é tão bom ser independente nas
pequenas coisas. Fazemos tantas coisas quando temos braços que só damos
conta disso quando não os temos mais.”
De volta à vida
Ao se casar em 2001, Flávio ganhou uma
esposa (Jane) e, junto com ela, um computador. “Eu nunca tinha digitado
uma tecla sequer. Só tinha datilografia”, brinca.
Enquanto a esposa de Peralta saía para
trabalhar, ele ficava em casa tendo aulas de informática. Nasceu, então,
o site “Amputados Vencedores”.
“Eu não queria que as pessoas sofressem
como eu sofri para colocar uma prótese. Por isso colocamos muitas
informações sobre o assunto na internet.”
Foi pelo site que o presidente de uma
empresa multinacional o encontrou. Precisava de um sobrevivente
brasileiro de acidente de trabalho que contasse sua história em um
evento da empresa. Peralta foi contatado por quatro vezes e negou todos
os pedidos de participação no evento, mas posteriormente convencido por
sua mulher, Jane, ele aceitou ir até Curitiba partilhar seu testemunho.
“Quase desmaiei para falar um minuto.”
Mal sabia ele que aquela participação resultaria em mais de 500
palestras pelo Brasil afora e dois livros.