Confira a entrevista completa
Desde que resolvemos iniciar o site www.amputadosvencedores.com.br,
recebemos inúmeros relatos de/ou sobre pessoas que sofreram
amputações. Além disso, estudantes de diferentes especialidades nos
perguntavam sobre uma eventual bibliografia sobre o tema. Foi então que
uma ideia nasceu em nosso coração: escrever um livro para mostrar que
existe vida e felicidade após uma amputação. É sobre minha experiência
pessoal que trata este livro: a de um rapaz de 29 anos que,
inesperadamente, se vê diante da morte, sem os dois braços, e decide
lutar pela vida.
Procuramos retratar o meu sofrimento e o de meus pais, ao decidirem pela amputação, as dificuldades e os desafios, o processo de recuperação e adaptação familiar e, finalmente, a superação, os desafios de me casar e de me tornar pai. Em algumas ocasiões, chego a me esquecer de que não tenho os braços; quando, por exemplo, em uma palestra, tenho a oportunidade de falar sobre segurança no trabalho e prevenção de acidentes e motivar as pessoas a enfrentarem os desafios que surgem a cada dia. Parece que, hoje, nessa condição, sei enfrentar melhor os desafios da vida. O livro foi lançado em 2010 pela editora Conex, Grupo Nobel.
Um ano se passou desde o lançamento e os acidentes de moto se multiplicaram pelo País. Empresas começaram a solicitar palestras sobre esse tema e tivemos a ideia de escrever o livro Os Peralta. Nesse livro, Jane Peralta, minha esposa, conta que sofreu um acidente de moto aos 13 anos de idade, no ano de 1981. Ela usava a moto para se locomover e cruzou uma preferencial na volta para casa. Ficou com sequelas graves e conta em detalhes essa experiência. Além disso, mostramos a constituição da família Peralta, quando nos conhecemos em 1999. Nós não desistimos de viver e acreditamos no amor e na fé. Encontramos nesse livro palavras que nos inspiram a não desistir de encontrar um grande amor e acreditar no poder da família. Nos casamos, nos tornamos pais e constituímos a família Peralta, composta por Flávio, Jane e Vinicius Peralta. O livro foi lançado neste ano e patrocinado pelo Amputados Vencedores.
Imagem Casal Peralta na Feira Reatech 2012
Como você começou como palestrante?
De 1997 até 2001 eu era um anônimo na multidão.
Apenas mais um na estatística que ficou inválido por causa de um
acidente de trabalho. Quando me casei, em 2001, eu ganhei uma esposa e,
com ela, um computador. Eu nunca havia digitado uma tecla sequer. Só
sabia datilografar. Enquanto ela saía para trabalhar (tinha três
empregos, na época) eu ficava em casa. Já sabia de cor todas as novelas e
filmes. Um dia ela resolveu colocar um anúncio no jornal, procurando
por um professor de web para mim. Como ela sabia que eu tinha muita
resistência a pessoas novas em minha vida, me contou somente depois que
já havia encontrado o tal professor. Concordei em aprender e tínhamos
aula toda semana. Aos poucos a ideia do livro foi surgindo. Nasceu,
então, o Amputados vencedores. Eu não queria que as pessoas sofressem
como eu sofri ao colocar uma prótese. Um dia eu recebi um telefonema do
técnico em segurança do trabalho de Curitiba (PR), Amilton Antunes. Um
amigo do Sintespar, Adir de Souza, indicou meu nome para ele, pois
procuravam por um sobrevivente brasileiro de acidente de trabalho que
contasse sua história em um evento da empresa. Amilton me ligou quatro
vezes e eu recusei o convite. Somente depois ele falou com minha esposa,
a qual me convenceu a ir para Curitiba. Quase desmaiei para falar por
um minuto. Saí correndo da sala e voltei para concluir a missão. Foi
então que as coisas foram surgindo e hoje já ministrei mais de 495
palestras pelo Brasil.
Que tipo de empresas geralmente contratam seu serviços? O que elas buscam em suas palavras?
Diversas empresas me procuram, de pequeno, médio e
grande portes. Nacionais e multinacionais. Onde houver um dirigente
consciente e uma equipe determinada a lutar pela segurança do trabalho
ou com pretensão de motivar a equipe para a área de vendas, servindo de
motivação e superação para os vendedores, eu sou convidado a dividir
minha história. O objetivo central é alertar o trabalhador tanto para a
importância da segurança do trabalho quanto para a motivação e a
superação de obstáculos diários. Para isso, eu inicio a palestra falando
sobre o dia do meu acidente, relato minha recuperação física e revelo
os erros que cometi (atos e condições inseguros). Após a palestra,
recebo o feedback positivo da empresa sobre minha apresentação e também
nos comentários dos participantes após a palestra. É importante ensinar
através da experiência de outra pessoa.
Veja alguns depoimentos de
clientes:
“Nós evoluímos como seres humanos através de nossas
experiências! Procuramos ser diferentes, inteligentes, com o que
sabemos. Buscamos o aperfeiçoamento hoje, para melhorarmos o nosso
amanhã. Flávio Peralta possui a capacidade de transformar as
adversidades que a vida lhe reservou em oportunidades de melhorar o
futuro dos seus semelhantes, pois, com o compartilhamento de sua trágica
experiência, tem alertado a todos sobre as questões dos acidentes de
trabalho e suas dolorosas consequências. Somos muito gratos a ele e sua
esposa por terem compartilhado suas experiências em nossos eventos, como
SIPAT e no Workshop – HSE Leadership.
Flávio, continue firme em seus projetos. Obrigado!”
Amilton J. Antunes – Técnico em segurança do trabalho, de Curitiba (PR)
“Flávio Peralta, obrigado por participar conosco em
nossos aprendizados em SMS, contando sua experiência e nos emocionando
com sua história de vida. Importante ressaltar que essa mesma história
levou várias pessoas (mais de 500) à reflexão do quanto temos
considerado importante a responsabilidade conosco e com todos à nossa
volta. Nossa intenção era enfatizar o quanto a nossa vida é valiosa e
que os acidentes acontecem não apenas com os outros, pois acidentes não
fazem distinção de pessoas, mas, sim, de atitudes. A ênfase em trabalhar
com prevenção está dentro do dia a dia da segurança do trabalho. Temos a
certeza de que você faz a diferença em nossas vidas e com o site www.amputadosvencedores.com.br.”
Sandra R. Cuzati Martins e equipe – Unidade RECAP – Petrobrás SMS
“O que dizer sobre Flavio Peralta? Uma pessoa que
teve um dos maiores desafios da vida em sua própria história. O desafio
de viver sem o toque. Toque físico apenas, pois se existe uma pessoa no
mundo que possui conhecimento e experiência para tocar verdadeiramente
as pessoas, essa pessoa é ele.
Sua história de vida não é apenas um exemplo ou algo
motivacional para nossas vidas, mas, sim, uma prova de que conseguimos
quebrar as barreiras e os limites mais inimagináveis impostos aos seres
humanos. Um limite no qual a mente desafia o corpo a acreditar na sua
possibilidade, um limite no qual o corpo afronta a imaginação, um limite
que faz jus à frase: ‘Se dá para imaginar, dá para fazer’.
Um limite no qual não existe limites para continuar a tentar cada dia mais.
Deveríamos agradecer a oportunidade de conhecer
alguém como o Flávio, simples, acessível e disposto. Disposto a mostrar
que com essa simplicidade que ele mesmo leva a vida podemos resolver os
problemas pontuais e contínuos mais complexos de nossa existência.
Problemas ou dificuldades são apenas oportunidades lançadas em nossos
caminhos para serem transformadas nas maravilhas que o mundo possui,
chamadas seres humanos!”
Cirilo Martinho – Gerente industrial MQA – Londrina (PR)
Por outro lado, que tipo de evento ou treinamento não
é adequado para você? Ou seja, que tipo de problemas, situações ou
treinamentos você geralmente prefere não aceitar ou repassar para algum
colega?
Desde que iniciei minha carreira como palestrante,
não recebi nenhum convite que não fosse possível de ser atendido. O que
pode acontecer é eu estar com a agenda cheia e recusar o convite. Nesses
casos, eu indico amigos palestrantes. Nessa profissão, essa é uma troca
muito saudável e que propicia crescimento profissional.
Qual é o seu diferencial em relação a outros palestrantes? Qual é a sua “marca registrada”?
Meu diferencial consiste em ter a história de um
acidente de trabalho, um choque elétrico de 13.800 volts que me levou à
amputação dos dois braços. Além disso, me preparei muito para poder
narrar minha experiência com capacidade técnica e habilidade para expor
isso em um palco. Muitos possuem histórias, mas não a habilidade e a
desenvoltura para encarar uma plateia, principalmente narrando uma
história cercada de emoções. É preciso ter maturidade para fazer isso.
Certa vez, ministrei uma palestra para 3.500 pessoas de uma única vez.
Todos me ouviram atentos e quietos. O silêncio reinava naquele lugar e
fiquei muito feliz com isso. Percebi que com minhas palestras poderia
mudar a vida de muitas pessoas. Também existem três produtos que nossa
empresa fornece aos contratantes: a cartilha Vamos praticar segurança do
trabalho, lançada em 2008, com imagens e textos sobre as questões da
segurança do trabalho, o livro Amputados vencedores – Porque a vida
continua, lançado em 2010 pela editora Conex, grupo Nobel, de minha
autoria, e o livro Os Peralta, lançado em 2012, com patrocínio da
empresa Amputados Vencedores Palestras e Treinamentos Ltda. Nosso
próximo objetivo é atuar com palestras no mundo de vendas, pois percebi
que para ser um vendedor é preciso estar sempre motivado (e encontramos
motivação na vida daqueles que superam os desafios) e que também sou um
vendedor: vendedor da minha própria história.
Além do seu próprio site (www.amputadosvencedores.com.br), que outros endereços da área você recomenda para quem quer se aprofundar no assunto?
O site www.amputadosvencedores.com.br
aborda dois assuntos: deficiência/amputação e segurança do trabalho.
Além dele, existem diversos sites direcionados para a área da
deficiência e amputação, podemos citar: a deputada federal Mara
Gabrilli, os sites Blog Ser Lesado, Deficiente Ciente, Passo Firme, etc.
Quais são seus livros de negócios ou autores
preferidos? Existe algum trabalho de algum autor ou consultor nacional
que mais chame sua atenção?
Leio bastante e admiro muitos escritores. Posso citar
Oportunidades disfarçadas, de Carlos Domingos; Sete vidas, do
palestrante Tom Coelho; e o palestrante Raúl Candeloro, grande exemplo e
que nos apoia sempre.
Qual foi a sua palestra mais memorável, a que mais lhe marcou?
Fiz uma palestra em uma empresa no interior de São
Paulo e um ano depois eu recebi um e-mail de uma jovem, com os seguintes
dizeres:
“Não sei qual é a sua religião, mas creio que Deus
tem um plano traçado para você, porque para mim Deus o usou na hora
certa, falando do abraço de seu filho, pois fui criada de uma maneira
que nunca me proporcionou um abraço de pai e este nunca foi um
verdadeiro pai. Você está entendendo o que eu quero dizer?
Minha mãe nunca demonstrou afeto por mim e por meus
irmãos, por meio de abraços e beijos. Foi uma criação muito difícil. Não
da parte de minha mãe, mas, sim, da parte de meu pai. Então, no último
dia da SIPAT, eu confesso: achei que sua palestra seria uma chatice...
mas quando você falou do choque que levou e de seu casamento, Deus tocou
de uma maneira muito forte e especial em meu coração, por isso estou
enviando este DVD e estes dois CDS, um com louvores e outro de
motivação, pois eles se identificam muito com você.
Flávio, aquela palestra foi a melhor dos cinco dias
de SIPAT para mim. No domingo fui à casa de minha mãe, lhe pedi a benção
e, pela primeira vez em 31 anos, criei coragem, me inspirei na sua
palestra e dei um beijo e um abraço nela. Algo que eu não tinha coragem
de fazer quando era mais nova.
Poxa vida, ela mora tão perto de mim e eu tenho os
dois braços normais, graças a Deus. Não sei explicar, mas até minha mãe
ficou sem jeito por eu nunca ter feito isso antes.
Um beijo em seu coração, no seu filhinho e na sua esposa, mulher batalhadora, guerreira, a qual o Senhor preparou para você.
Fiquem todos com Deus, nas suas bênçãos e obrigada pela atenção.”
Com certeza esse foi um resultado que eu não
esperava. Mas fiquei muito feliz ao saber dessa história e considero
esta a palestra mais memorável que fiz: convencer uma filha a dar o
primeiro beijo em sua mãe e fazê-la ver que a vida tem valor. Foi
sensacional.
Qual foi a situação mais desastrosa ou engraçada que já aconteceu em uma das suas palestras ou eventos?
A mais difícil foi em uma multinacional, em 2011. Eu
havia sido convidado para fazer 15 palestras em três dias e na penúltima
delas aconteceu algo que eu não esperava. Meu assessor estava de costas
para mim, guardando os equipamentos e não viu a cena. Um trabalhador
chegou até mim e começou a chorar compulsivamente. Me abraçou e eu
chamei meu assessor para me dar apoio, nos sentamos e ele começou a
explicar o que havia acontecido: um acidente há alguns meses, no qual
ele estava próximo à máquina de um amigo, de repente, ele viu o amigo
ser tragado pelo rolo compressor; rapidamente, correu até a chave de
força, desligou a máquina e chamou o Corpo de Bombeiros. Ficou ali, todo
o tempo dando apoio à vítima e presenciou tudo, até mesmo a retirada do
braço do colega que ficara preso no rolo. Ficou claro que ele não havia
superado aquilo e seu choro revelou a dor de um colega que lastimou
tudo que aconteceu. Coube a mim consolá-lo e dizer que a vida continua
para ambos. Seu colega conseguiu ter o braço reimplantado e ainda está
afastado da empresa. Foi a situação mais difícil que enfrentei em cinco
anos como palestrante.
Além desse caso, outro que me deixou desconcertado
foi o desmaio de um gerente de uma empresa de grande porte, durante uma
palestra. Todos ficaram atônitos e assustados e eu tive de me recompor
para concluir a palestra.
Qual é o maior erro que você nota nas convenções ou nos treinamentos de empresas?
Quando vou a um evento, fico observando as pessoas e
percebo que elas poderiam aproveitar aquele espaço para trocar
experiências, ideias ou apenas se conhecerem. Eu e Jane fazemos muito
isso. Queremos conversar com as pessoas, nos apresentar, conhecer as
histórias de quem está ali naquele momento que pode ser tão proveitoso
para novas oportunidades, mas percebo que as pessoas sentam em seus
lugares e conversam muito pouco com os demais participantes. Poderiam
aproveitar muito mais fazendo networking.
Por que você acha que tantas reuniões e
tantos treinamentos são chatos ou improdutivos? O que poderia ser feito
para melhorar isso?
Palestras somente técnicas se tornam cansativas. As
pessoas querem ouvir palavras que transmitam sentimentos e experiências
de vida, juntamente a aspectos técnicos. Quando se cria um clima de
emoção, tudo fica diferente. Pode-se também inovar com o riso e com
situações de alegria. Grupos teatrais podem oferecer momentos de
reflexão e de descontração.
Que grande conselho ou dica você daria para alguém que deseja melhorar resultados no trabalho e/ou na vida?
Muita leitura. Ser bastante curioso e utilizar as
ferramentas das redes sociais com bastante sabedoria. É preciso ter um
marketing pessoal presente, otimismo e persistência em tudo que fizer.
Os obstáculos virão, mas não podemos desistir de lutar.
Gostaria de deixar um último recado aos nossos leitores?
Quando acordarem, logo cedo, se lembrem de dar um
abraço e de dizer bom dia a quem está ao seu lado. Esse contato é de
graça e pode salvar uma vida. Digo em minha palestra que fui abraçar meu
filho somente quando ele estava com oito meses de vida. Esse é um
momento de muita comoção para os ouvintes, que se emocionam e ficam
pensando em seus filhos e familiares. Eu não agi com segurança e perdi
os dois braços, mas é possível evitar vários acidentes agindo com
segurança do trabalho sempre.
Livro de Flávio Peralta

Livro de Jane Peralta

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